Levantamento de Requisitos: A Base de um Software Bem-Sucedido

Levantamento de Requisitos: A Base de um Software Bem-Sucedido
Por Gabriel Andrade16 de abril de 2025

Imagine construir uma casa sem conversar com quem vai morar nela. Você pode até levantar paredes, instalar janelas e pintar tudo de branco. Mas e se a pessoa preferisse uma varanda, odiasse a cor branca e quisesse uma cozinha americana? O mesmo acontece no desenvolvimento de software. Antes de começar a codar, é essencial entender o que o usuário realmente precisa — e é aí que entra o levantamento de requisitos.

O que é o levantamento de requisitos?

O levantamento de requisitos é uma das primeiras e mais importantes etapas do desenvolvimento de software. É o momento em que a equipe busca compreender as necessidades, expectativas e limitações do projeto, diretamente com as partes interessadas. Pode parecer simples, mas esse processo vai muito além de “anotar o que o cliente quer”.

Requisitos mal definidos ou incompletos são uma das principais causas de falha em projetos de software. E falhar aqui significa perder tempo, dinheiro e, muitas vezes, a confiança do cliente.

Engenharia de Requisitos: mais do que um formulário a ser preenchido

A engenharia de requisitos é o campo da engenharia de software que se dedica a sistematizar essa etapa. Ela envolve quatro atividades principais:

  1. Elicitação de Requisitos
    É o processo de descobrir o que realmente é necessário. Isso pode envolver entrevistas, questionários, workshops, observação direta e até análise de sistemas existentes. Um bom engenheiro de requisitos precisa saber ouvir, interpretar e, às vezes, até ler nas entrelinhas.

  2. Análise de Requisitos
    Aqui, o foco é entender se os requisitos fazem sentido, se estão completos, se não entram em conflito entre si. Um erro comum é aceitar tudo o que o cliente diz sem questionar. Mas nem sempre o que ele pede é o que ele realmente precisa.

  3. Especificação de Requisitos
    Após a análise, os requisitos são formalmente documentados. Isso pode ser feito em linguagem natural estruturada, modelos UML, diagramas de caso de uso, protótipos e outros formatos, dependendo do nível de detalhe e da familiaridade da equipe.

  4. Validação de Requisitos
    Por fim, é preciso garantir que os requisitos documentados estão corretos, claros e validados pelas partes interessadas. Isso evita mal-entendidos lá na frente, quando o sistema já estiver em desenvolvimento ou até em produção.

Tipos de requisitos: nem todos são funcionais

Um erro comum é pensar que requisito é só aquilo que o sistema “tem que fazer”. Mas na prática, eles se dividem em duas grandes categorias:

  • Requisitos Funcionais: descrevem funcionalidades específicas, como “o sistema deve permitir o cadastro de novos usuários”.
  • Requisitos Não Funcionais: tratam de aspectos como desempenho, segurança, usabilidade, portabilidade. Por exemplo, “o sistema deve responder em até dois segundos” ou “deve estar disponível 99,9% do tempo”.

Ignorar requisitos não funcionais pode transformar um sistema funcionalmente correto em uma catástrofe na experiência do usuário.

Dificuldades e desafios reais

Se fosse fácil, qualquer um faria. Um dos maiores desafios do levantamento de requisitos é lidar com a ambiguidade. Muitas vezes o cliente nem sabe exatamente o que quer, ou muda de ideia no meio do caminho. Por isso, mais do que coletar dados, essa etapa exige empatia, escuta ativa e uma comunicação muito clara.

Outro ponto importante é envolver todas as partes interessadas, e não apenas uma pessoa da empresa. Às vezes o gerente tem uma visão, mas quem usa o sistema no dia a dia é o operador — e as necessidades são bem diferentes.

Dicas práticas de quem vive isso no dia a dia

  1. Faça protótipos: uma imagem vale mais do que mil palavras. Um wireframe simples já pode evitar muita retrabalho.

  2. Documente tudo com clareza: use uma linguagem simples, evite jargões e valide cada ponto com o cliente.

  3. Questione mais do que ouça passivamente: não se contente com respostas vagas como “o sistema precisa ser fácil de usar”. Pergunte: “o que significa fácil de usar para você?”

  4. Trabalhe em ciclos curtos: usar abordagens ágeis ajuda a validar requisitos com mais frequência e se adaptar a mudanças com menos dor de cabeça.


Conclusão

O levantamento de requisitos é uma arte e uma ciência. Não é apenas um checklist antes de começar o código, mas sim uma etapa estratégica que define os rumos do projeto. Quando feito com atenção, cuidado e diálogo, ele se transforma em um mapa confiável para toda a jornada de desenvolvimento. Ignorá-lo, por outro lado, é navegar no escuro — e torcer para chegar ao destino certo.